sexta-feira, 9 de março de 2012

Entre lágrimas e risos, Kuerten idolatra Senna e Agassi

Foto: Edson Lopes Jr. /Terra
Não foram apenas os resultados expressivos que tornaram Gustavo Kuerten um ídolo da população brasileira a partir da segunda metade da década de 1990. Outro fator crucial para o sucesso foi o carisma daquele tenista pouco convencional. Irreverente, cabeludo e de barba por fazer, o atleta conquistou Roland Garros pela primeira vez em 1997, liderou o ranking e emocionou quando anunciou, às lágrimas, a aposentadoria. Alegou "não conseguir mais" jogar, "não querer mais", e pediu desculpas por isso.
 
Perto de completar quase quatro anos fora do circuito da ATP, Gustavo Kuerten foi nomeado ao Hall da Fama nesta quinta-feira, em um evento realizado em São Paulo. Durante as quase duas horas nas quais concedeu entrevista à imprensa, após um longo tempo afastado dos microfones, Guga foi extremamente espontâneo. Chorou, gargalhou, fez piada, lembrou ídolos e momentos marcantes da carreira, reconheceu o talento que teve e admitiu, até, que demorou para conhecer a instituição americana que o homenageou.

Confira as melhores frases de Guga nesta quinta-feira:

 Hall da Fama:  "Devo confessar que nos meus 10 ou 12 anos não sabia que o Hall da Fama existia, só quando me tornei profissional que vi a importância. Era muito longe das minhas expectativas. Quando comecei a brincar de tênis, meu pai dizia que eu conseguiria chegar lá, ganhar Roland Garros... Ele é a pessoa com quem eu mais queria compartilhar este momento".

Das lágrimas às piadas: Guga não aguentou o choro enquanto assistia ao vídeo realizado pelo Hall da Fama, desabando em lágrimas no momento em que reviu seu discurso emocionado na Costa do Sauípe em 2008, anunciando a aposentadoria - que, quatro anos depois, ainda emociona a quem acompanhou sua carreira. Com a voz embargada, tentou iniciar um discurso em um microfone que, durante a entrevista, falhou diversas vezes. Alguns câmeras de televisão pediram para que Kuerten repetisse as primeiras palavras, se possível com a mesma emoção. "Vou tentar, mas ainda não tenho esse nível de atuação ainda", descontraiu o ex-tenista, que chegou a cursar teatro na universidade após se aposentar.

Ayrton Senna, ídolo: "O Senna foi um grande mito, guiou muito um período da minha carreira. Ele, talvez, simbolize todos os atletas brasileiros. No tênis, meus maiores ídolos são Maria Esther Bueno e Thomaz Koch, além dos internacionais (Bjorn) Borg e (John) McEnroe. (Pete) Sampras e (Andre) Agassi também. Lembro que, na minha primeira viagem aos Estados Unidos, saí que nem louco para comprar uma camisa do Agassi. Cinco anos depois, estava do outro lado da quadra jogando contra ele. Não era para ser tanto assim, mas... fui feliz porque pude aproveitar cada momento da minha carreira".

Marciano em Londres: "Um dos meus maiores créditos foi dar um passo de cada vez, não pensar lá na frente, pois viraria algo até assustador. Para ser primeiro do ranking, tive que ser quinto, depois terceiro... eu era um brasileiro jogador de tênis, isso não era algo natural. Por isso gera uma dúvida, eu não tinha ninguém próximo no circuito. Uma vez, em Wimbledon, parecia um marciano falando português entre americanos e britânicos. Hoje em dia vejo algumas imagens minhas em quadra e ainda me belisco para me dar conta de que tudo é real".

Duelo com Federer em dezembro: "Já entraram em contato comigo para esse jogo no final do ano. Mas envolve algumas coisas, como arrumar a minha carcaça, estar pronto fisicamente. É preciso um tempo para isso ser acertado, até para que eu possa treinar"

Maiores momentos: "A Masters Cup de 2000, em Lisboa, envolveu todos os temperos e experiências da minha carreira, até mesmo a frustração gigante por perder o primeiro jogo (para Andre Agassi), e também a peripécia para ser campeão. Meu jogo mais marcante foi contra o (Michael) Russell (nas oitavas de final de Roland Garros 2001, vitória de Guga por 3/6, 4/6, 7/6, 6/3 e 6/1). Foi quando encontrei a maior felicidade em uma quadra de tênis. Mas meu rival mais duro foi o Agassi, pelas partidas que fizemos e nas alternâncias entre nossos momentos bons e ruins. Pude testar meus limites ao máximo. Mas faltou fazer finais na França com Bjorn Borg e Rafael Nadal".

Aldo Kuerten, o pai sonhador: "Até hoje não entendo o meu pai, muito sonhador. Ele levou o Thomaz Koch a 'Floripa' para dar uma clínica de tênis e eu, com sete anos na época, não tinha perspectiva alguma no esporte. Ainda mais na minha cidade, onde o tênis era um esporte limitado a dezenas de pessoas. Se houvesse cinco quadras lá era muito. Poderiam dizer que ele parecia um maluco, mas na verdade era um visionário".

Maria Augusta, filha: "Levamos três dias para definir que ela se chamaria Maria Augusta. Foi mais difícil do que a final contra o Andre Agassi. Ah, é difícil escolher um nome, né? Tem tantos legais. Pensamos em Bárbara, Carolina... mas acabou ficando Maria Augusta. Preferimos não definir antes do nascimento para não haver remorsos. Falaram até que se chamaria Gustava. Gustava? Essa foi demais, né? O pior é que o pessoal falava que era bonito. Forçaram".

Maria Esther Bueno: "A Maria Esther, por exemplo, colocaria Nadal, Federer e a turma toda de hoje no bolso. Ela ia lá e ganhava tudo, até sorteio. Eu me lembro de uma vez, quando tinha 17 anos, participei de um jantar dos campeões de Wimbledon e ela estava lá. Foi aí que eu pensei: é uma brasileira também. Por que eu não posso chegar lá?"

Maior feito?: "Meu maior êxito foi ter trazido o tênis para a esfera popular, para a boca das pessoas na rua. Seja na padaria, no açougue, no supermercado... hoje todo mundo fala de tênis, algo que não existia lá atrás. Consegui trazer o tenista, que era quase que um deus, um intocável, para o âmbito das pessoas comuns. Vendo minha história no esporte, mereço estar presente neste espaço (Hall da Fama)".

ATP Finals em São Paulo: "Trata-se de um objetivo grande, e Rio de Janeiro e São Paulo já manifestaram interesse em organizar a Masters Cup. Acho que o momento é propício, e tudo leva a crer que há chance real em trazer o torneio para cá. Agora vou para Miami conversar com o novo presidente da ATP (Brad Drewett) e saber mais detalhes. Mas já temos parceiros dispostos a nos ajudar. Acredito que tenho uma influência maior nesse meio, o fato de eu estar envolvido é importante para os dirigentes. Especificamente, quero trazer o torneio para o Brasil a partir de 2014. Vou fazer de tudo. Bom, de tudo não. Mas de uma maneira legal, sem meios ilícitos".

Nas nuvens: "Sou muito sortudo, em um mês ganhei uma filha e entrei no Hall da Fama... muitas coisas boas continuam acontecendo. Vou sair daqui feliz da vida, motivado para continuar fazendo minhas ações para o tênis... Com Federer e Masters Cup vindo para o Brasil, posso passar o lápis e fechar o ano muito bem".

Fonte: Felipe Held/Terra


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