segunda-feira, 23 de agosto de 2010

É preciso mesmo tanto barulho nas Academias?

A legislação é clara: ruído em excesso, só se for até 85 decibéis. Mas, será que as academias estão realmente atentas ao volume de som ao qual estão expostos seus alunos e também colaboradores. Não são raros os casos de professores afônicos por tentarem falar sempre em um tom mais elevado do que o "micro system" ligado no canto da sala de ginástica. Novas tecnologias procuram minimizar o problema: "Escolhi a minha academia levando em consideração a disponibilidade de recursos e serviços que garantem o bem-estar dos meus ouvidos." Assim, Patrícia Guimarães de Souza, 34 anos, justifica a decisão que tomou há pouco mais de três meses. A gerente comercial trocou o ambiente barulhento da academia que frequentava pela opção de controlar por conta própria o volume da TV enquanto pratica exercícios na esteira ou bicicleta.
"Preciso da música como estímulo para realizar atividades físicas. Poder escolher o que ouvir e no volume ideal melhora o meu desempenho", acrescenta.
Mas não se engane! Patrícia é uma exceção à regra quando o assunto é cuidado com a exposição a altos volumes dentro das academias. De acordo Tanit Ganz Sanchez, professora livre-docente da Faculdade de Medicina da USP e primeira pesquisadora do Zumbido no Brasil, a maioria dos pacientes que possuem problemas auditivos raramente percebe que eles podem começar em situações rotineiras como, por exemplo, malhar em ambientes barulhentos todos os dias.
"O zumbido e a hipersensibilidade a volumes de televisão e rádio são os principais sintomas do início da perda de audição e as pessoas os ignoram." A especialista calcula que 34% dos tratamentos de seus pacientes estão diretamente ligados à poluição sonora em ambientes como academias, entre outros.
Ainda segundo a chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido pelo Hospital das Clínicas em São Paulo, os professores estão entre os principais grupos de risco de contrair surdez em função do período de tempo em que ficam expostos aos barulhos. Podem tornar-se grandes prejudicados ao adentrar em uma competição sem fim com o volume elevado do micro system no canto da sala de ginástica ou mesmo com o sistema de som da academia.
"Além do volume, eles devem estar atentos ao tempo de exposição. Como os sintomas e a própria surdez têm um efeito cumulativo, a qualidade de vida dessas pessoas tende a piorar junto com a doença", alerta.
A somatória de ambos os fatores fez que Denise Garcia Pompermayer passasse a apresentar alguns desses sintomas. "Tenho dificuldades em escutar quando uma pessoa fala muito baixo e, sem perceber, aumento muito o meu tom de voz durante as aulas", conta a professora e coordenadora de ginástica que há dez trabalha em academias.
Por esse motivo, Denise revela que procura tomar certos cuidados durante a rotina de trabalho. "Tento deixar o som mais baixo durante as aulas e quando presto atenção, tento abaixar o meu tom de voz ao falar com as pessoas, principalmente em ambientes fechados".

ACADEMIA DO FUTURO

Paralelamente aos estudos da medicina sobre as formas de tratamento dos problemas auditivos, algumas empresas produtoras de aparelhos de ginástica encontraram também na universidade uma aliada para o desenvolvimento de novas tecnologias que contribuem para amenizar os problemas gerados pelos equipamentos nesse sentido.
Ao logo de cinco anos, a Movement, em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP), trabalhou na criação de uma linha de produtos que tem como principal característica a ausência de ruídos. A estrutura mecânica dos equipamentos da linha Next E fica em ambientes isolados da sala onde os usuários realizam a série de exercícios. Eles comandam o cérebro da máquina por meio de uma tela digital, na qual especificarão os movimentos a serem realizados.
"O sistema de transmissão, que é feito por meio de cabos eletrônicos, é a alma do processo, uma vez que responde pela troca de informações da tela com a parte motora dos equipamentos", afirma Júlio Serrão, coordenador do laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física e Esporte da USP e que há 20 anos trabalha com pesquisas ligadas à biomecânica do esporte.
Ainda segundo o pesquisador, a ideia nasceu em virtude de uma tendência mundial de valorização de espaço e garantia de conforto e resultados aos usuários das academias. "Existem evidências científicas que mostram que o nível de ruído interfere diretamente na perfomance dos exercícios, porque eles atrapalham a concentração, elemento indispensável para o bom desempenho de atividades físicas", completa Serrão.
Os números provam que os pesquisadores estão no caminho certo. A procura pela Linha Next aumenta a cada dia, desde que foi lançada, no início de 2009. "A demanda cresceu entre 10% e 12% nos últimos meses", calcula Marcos Corradi, analista de marketing da Movement. O produto ainda otimiza em até 20% o espaço da sala onde é instalado.
Alguns proprietários de academias já atentaram para os efeitos dos ruídos em seus negócios. É o caso de Silvio Dejean, dono da Activa, localizada em São Paulo (SP). Há cinco anos, a estrutura de suas duas unidades receberam em suas instalações tecnologias que amenizam os barulhos. Cada uma das cinco salas possui isolantes acústicos e vidros antissom.
"Dessa forma, a música da aula de aeróbica não se mistura ao som ambiente da aula de spinning, por exemplo."
Além disso, cada um dos instrutores é munido de um dosímetro, equipamento que mede o nível de decibéis no ambiente, para que ele não passe do limite estabelecido por lei, de 85 decibéis. Ao todo, a academia investiu R$ 200 mil em novas tecnologias.
Há pouco mais de três meses, a Activa também adotou um sistema onde as TVs estão integradas com fones de ouvido, o que permite a individualidade no controle do volume do som por parte do aluno. "Já que o aluno procura a academia para cuidar de sua saúde, nós devemos zelar pela saúde de seus ouvidos também. Isso agrega valor ao negócio e contribui para a fidelização dos nossos clientes", acredita Dejean.
Marcos Nogueira Borges, 39 anos, é um dos alunos que aprovam as mudanças. "Desde que tive contato com os novos equipamentos na academia, percebi que o meu rendimento nos exercícios melhorou muito", conta o empresário que se dedica à atividade física pelo menos uma hora por dia.

DICAS PARA PREVENIR-SE

A Dra. Tanit Ganz Sanchez acredita que, se os professores seguirem algumas regras, é possível garantir a saúde dos ouvidos. Aí vão cinco dicas úteis para colaboradores e gestores de academias:

1. Tenha consciência dos riscos da exposição excessiva aos altos volumes.
2. Diminua o volume até que ambiente tenha até 85 decibéis.
3. U tilize protetores auriculares, pois amenizam o barulho.
4. Atente-se ao limite de exposição em ambientes barulhentos de 8 horas.
5. Se for necessário permanecer no local, faça intervalos de dez minutos a cada hora em um ambiente silencioso.

Fonte: Instituto Fitness Brasil

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